Retirado da Revista RADIS de outubro:
Vai dar entrevista? Eis algumas dicas
Na capa, Patrícia Galvão,a Pagu (1910-1962), militante política e crítica pioneira da mídia
Notícias sobre violência doméstica e sexual contra mulheres e adolescentes são recorrentes e, na maior parte delas, profissionais de saúde são ouvidos sobre os casos. Para prepará-los a comentar este tema delicado, o Ministério da Saúde reimprimiu o livro Comunicação e Mídia — Para profissionais de saúde que atuam nos serviços de atenção para mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e sexual. Elaborado em 2007 pelo Instituto Patrícia Galvão, organização sem fins lucrativos dedicada à comunicação e aos direitos das mulheres, esta espécie de manual está disponível na internet.
A publicação parte da constatação de que a mídia é importante para esclarecer a sociedade a respeito da violência doméstica e sexual e orienta o profissional a aproveitar as conversas com jornalistas para destacar as implicações da violação dos direitos de mulheres e adolescentes e divulgar o serviço prestado pelo SUS — as orientações básicas, entretanto, são úteis para todos os profissionais do SUS, do trabalhador ao porta-voz dos serviços.
Antes da entrevista, ensina o livro, é importante refletir: “O que tenho a informar? Como transmitir ao público as normas técnicas do SUS de forma simples e clara? Como comunicar para a população do meu estado sobre quais são os procedimentos e cuidados da equipe? Como explicar que o serviço existe para prestar um atendimento humanizado a mulheres que sofreram violência, dando a elas acesso a um direito fundamental, que é o direito à saúde, física e mental?”
Para responder às perguntas, use frases curtas, em ordem direta, linguagem simples, clareza e objetividade. Termos técnicos como “transmissão vertical” e “imunoprofilaxia” devem ser evitados, assim como gírias ou cacoetes de linguagem: “Coisas do tipo”, “eu enquanto profissional de saúde”, “tipo assim”, “a nível de”, “né?”, “tá entendendo?”. A expressão “pílula do dia seguinte” também é desaconselhada, pois pode levar o público a pensar que deve ser usada apenas no dia seguinte, e não imediatamente após estupro ou relação desprotegida.
Quando se é convidado a falar na TV, a orientação é vestir uma roupa discreta, sem enfeites ou brilhos, para não desviar a atenção do telespectador. Outra dica: não se preocupar com câmera, microfone ou equipe, e sim em passar informações corretas para o público. Para o bom entendimento, deve-se falar pausadamente e de forma didática.
No rádio, a preocupação com a objetividade e a simplicidade deve ser ainda maior. A linguagem pode ser mais coloquial, com exemplos do dia-a-dia e citação de depoimentos ouvidos nos serviços, para dar “colorido à fala”. Nesse caso, é possível ter em mãos anotações e documentos para consulta.
O livro recomenda: nunca dê informações “em off” (confidenciais). “Depois que o estrago está feito há pouca coisa a fazer além de administrar as consequências”. E orienta: após a entrevista, se o veículo publicar coisa diferente do que você disse, peça correção. Uma ressalva: o profissional entrevistado é um porta-voz do SUS e, “por mais que você vá falar a partir de sua experiência e de seu conhecimento, para o público você representa o serviço”. (B.D.)
Retirado da Revista RADIS de Outubro
Nenhum comentário:
Postar um comentário